''MEU SER VIVE NA NOITE E NO DESEJO. MINHA ALMA É UMA LEMBRANÇA QUE HÁ EM MIM''

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Ce n’est pas une pipe: quando as obviedades deixam de serem óbvias.

Pra mim, a maior invenção do homem não foi a roda ou o fogo, mas a sociedade. Sociedade não nesse sentido redutível a grupos de pessoas, embora não deixe de ser condição essencial, e sim como uma complexa rede de estratificações hierarquizantes no qual se criam, formulam, formam esse todo coeso. Entendo que o homem busca a vida em sociedade para fugir de certas questões que em coletividades se tornam “inquestionáveis”, pois encontram aderências suficientes de pessoas que compartilham das mesmas idéias e instituições que apaziguam certas dúvidas hiperbólicas. É, é isso mesmo caros leitores, (faço minhas as palavras de Humberto, será que temos caros leitores? Enfim...) a sociedade como função ontológica, e não como um corpo cooperador, solidário de indivíduos que ao estabelecerem relações sociais, se beneficiam mutuamente. Esperem um pouco, pois também concordo com esta última assertiva. As contrariedades são propositais, vejamos se consigo me expressar melhor em ilustrações.

Um cientista social entende que as instituições sociais proporcionam aos indivíduos "o porquê" deles existirem, e, portanto, tornarem a existência justificável. Até certo ponto, compreendo que o papel do cientista social é entender os exageros (opressões) que essas instituições submetem à maioria desses indivíduos através das ideologias e, desse ponto de vista, se constitui num desregulamento das instituições. Exemplo polêmico: a religião é muito importante para a vida em sociedade, mas o domínio de uma religião sobre outras, ou o predomínio em determinadas áreas que tendem a prevalecer a vontade unilateral da religião dominante já se torna agravante que põe em xeque uma saudável estabilidade social. É claro, esse papel do cientista social também estão voltados para o campo da política, aspectos culturais e etc, que devem se estudados, analisados e denunciados no tom que Bourdieu apregoava, como um esporte de combate.

Em linhas gerais, lutamos pela Sociedade Igualitária, que o bem e o bom sejam de alcance de todos, e distribuídos a todos. Contudo, às vezes penso que fazemos um papel antinômico, pois, ao mesmo tempo que lutamos em prol da Sociedade, a iludimos, pois tudo não passa de artificialidades, e me reporto novamente a minha primeira frase do texto, quando dizia que a sociedade é a maior invenção do homem porque é um constructo tão bem acimentado, tão bem formulado, que até mesmo grande parte dos intelectuais dessa área se entregam a essa reificação. O trabalho, a vida em família, dentre outras coisas, são tão arraigadas à nossa personalidade social que as obviedades deixam de ser óbvias, ou como diria um artista françês: Ce n’est pas une pipe! (Isto não é um cachimbo)




Um comentário:

Devaneios Encantados.