''MEU SER VIVE NA NOITE E NO DESEJO. MINHA ALMA É UMA LEMBRANÇA QUE HÁ EM MIM''

domingo, 6 de novembro de 2011

Dos meus calculados passos
e das lembranças molhadas
nada tenho.

Não preciso de gritos
e nem da angústia
das trovoadas brancas.

Recolho-me no próprio abraço
e a pele queima.

Corro desesperado
e o silêncio aumenta.

Segue-se um sossego impróprio
de quem não sabe o que quer.
Perdida na inconstância do meu ser, ando aos tropeços com o meu sentir que me faz tão bem. Aos tropeços, digo, por ser falível: em um piscar de olhos as emoções voltam e oprimem minha liberdade. Ser se transforma então num caos de não emoções, ou emoções reprimidas. Sentir significa, nessas horas, abrir mão de mim. Se por um lado me perco, por outro, nunca me senti tão completa. Poderia concluir, assim, que sentir é ser livre? Ou seria doce ilusão? Sinceramente, eu sinto. Se sou livre, bem, isso já é demais.
Ainda não voltei das nuvens cinzas
Ainda não voltei de dentro.

Ainda sigo quieto
de olhos abertos
e coração em silêncio.
Ás vezes tenho a estranha sensação de que devo ser outra pessoa. Deixo-me render a tal pensamento mesmo sem entender ao certo o porquê desse dever. E em silêncio busco na memória alguma lembrança capaz de decifrar todo o mistério de meu ser.
Até acontecer de meus sentimentos me conduzirem a uma só conclusão que me faz enxergar que essa sensação só aparece para que eu perceba o quanto amo ser quem sou.
Apesar do fogo, da defesa e da lerdeza, todos os dias acordo com a impressão de que a vida é um jogo de xadrez e de que eu sou peça branca. Deixam-me sair primeiro para pensar que estou com vantagem. Observo inimigo, planejo o ataque, nunca baixo a defesa. Sacrifícios são necessários, por mais profundo que me doa. Muitas vezes a vitoria vem à cavalo. A igreja protege, mas também ameaça, quando penso que vou avançar, alguém aparece e captura minha rainha.
Necessito de dor e felicidade. Tesão e rejeição. Cada movimento é um suplício,
cada decisão, uma arritmia. A respiração é involuntária, assim como o meu desejo de liberdade. Sou uma página que de tão inquieta, se soltou de um livro, mas permaneço apegada às letras surdas que se opõem às minhas ideias.
A loucura permite o sonho libertando os pensamentos mais insanos.
O som daquele acorde faz com que eu acorde mais cedo
e mesmo que um acorde só não faça uma melodia,
é com esse som que eu acordo todo dia.

Do, Ré, Mi, Fa, a perfeição de um arranjo
a combinação perfeita das notas que ressoa
da arpa de um anjo.

Rítmos, compassos, as variações de uma batida
a minha vida é uma escala crescente
e sempre será sustenida.

E se isso não for o suficiente eu a aumento em um tom
e irá cair em um acorde diferente,
intimidando qualquer desafinado som.

Então do ''Fa'' eu pulo para o ''Sol''
e encontro a tonalidade que queria e
mesmo que seja uma simples nota,
nunca deixou de iluminar meu dia.
Pra mim sempre foi fácil
Expressar tudo que sinto
Eu escrevo minhas verdades
Mas confesso de vez em quase sempre, minto

Justamente por serem palavras
Que no berço da expressão
Traem nossos olhos
E até o nosso coração.

Só sou sincero quando me calo
Quando esvazio meus pulmões
Gritando ou suspirando
Sou sincero, quando digo que sou feliz.

De vez em quase sempre, minto.
Deixa pra lá.
Deixa a água do mar levar...